O PORTÃO - DE ROBERTO CARLOS - REFLEXÃO
Nesta manhã ao sair para caminhar
resolvi ouvir algumas canções antigas. Aleatoriamente entrou a música do
Roberto, O Portão. Ouvir músicas antigas
do Roberto me trazem lembranças da adolescência. Meu tio Marcos, esposo da
minha tia Emilia, todos os anos comprava o último LP do Roberto e passávamos o final de ano
embalados por aquelas canções. Lembranças nos fazem bem, e mal. Recordar nos
faz sentir uma nostalgia, um aperto no coração, sim, há uma certa dor nas
lembranças. Mas isso é bom! As Lembranças nos trazem uma certa paz também. Interessante
como as experiências vão se sobrepondo umas às outras e vão formando camadas
com novas cores. Tais cores vão se infiltrando nas lembranças anteriores de
modo que nossa percepção do passado vai se alterando, eu diria, amadurecendo. Ouvido essa música do Roberta, pensei no filho
pródigo. Ele, um dia deixou o conforto da família, a proteção dos pais, o
quarto simples com colchão manchado, deixou a velha geladeira sempre com muitas
garrafas de água e ovos; deixou a velha
sala com o sofá pedindo um novo e se foi levando o pouco dinheiro que a mãe pudera
dar. Lá fora, além do horizonte, não havia um lugar bonito para se viver em paz. Ele teve muita sorte de
poder voltar e encontrar alguma coisa esperando por ele. Muitos ao voltar não
encontram mais um cachorro latindo no portão, não conseguem mais abrir a porta
porque a fechadura foi mudada. Não há retratos amarelados na parece, não há
mais mãos estendidas para acolhe-lo em um abraço quente. Por muitos motivos, ou
porque o tempo de fato desfaz os cenários, seja pelo recolhimentos dos
espíritos, seja porque as pessoas se esgotam ao esperar pelos pródigos. Um dia
não esperam mais. De início pensava que a pessoa que esperava o Roberto seria
sua mãe. Afinal mãe é como o Word Trade Center, mas que não se quebra, não
desaba. Podem vir aviões camicases, ou ataques de todo tipo, ventos, furacões e
terremotos, Mãe não cai. Braços de mãe sempre estão abertos. “Pode uma mãe
esquecer-se de seu filho? Do filho que mama?”. A Bíblia já nos alerta acerca do
amor de uma mãe. Porém na sequência do texto bíblico ele diz:” todavia , ainda
que ela dele se esquecesse...” (Is 49:15). Então, mães, podem sim, chegar ao
limite da esperança. Roberto teve sorte. A música sem dúvida fala de família.
Roberto é um romântico. Fui ampliando a visão, e pensei que não são apenas os
filhos que saem de casa. Temos pais
pródigos. Pais que em busca da felicidade, na centralidade de seu
egocentrismo, olha pela janela e procura do lado de fora um lugar para ser mais
feliz. A cama desarrumada, o ninho, a mesa, o cheiro do café da manhã, o resto
de Coca na geladeira, o botijão de gás para trocas, o controle da TV na mão do
filho, o perfume da casa pelas manhãs ensolaradas ou chuvosas, já não lhes são
suficientes para ser feliz. Ele ou Ela, sai em busca dessa tal felicidade, enfim, ele
ou ela nasceu para ser feliz e na desenfreada busca disso, não se importa de subir na escada da
infelicidade e humilhação de seu cônjuge
e filhos. As juras de amor, companheirismo e fidelidade são atropeladas por um
ser que não se importa mais com honra, caráter, responsabilidade. Aliás,
qualidades que a modernidade excluiu dos
dicionários. Mas lá fora nada é muito diferente e pode ser muito pior. O
mal, na verdade, está dentro da pessoa e
ela o carrega para onde vai. O real motivo da infelicidade não está ligado às
experiências de nossa vil e passageira existência, tem haver muito mais com um
espírito cuja saciedade não será encontrada em sexo, festa, paixões e diversão.
Então deseja-se voltar à casa. Feliz aquele encontra o caminho de volta, um
portão aberto, um cachorro abanando o rabo e um retrato ainda na parece
amarelado pelo tempo. Muitos não têm a mesma sorte. Resta-lhe o caminho do
horizonte em busca de uma sombra cuja árvore
terá que plantar novamente, e como é sabido, árvores demoram a crescer. E prossegue numa caminhada de destemperos pois
quem constrói sua felicidade, ou pelo menos tenta, sobre a infelicidade de
outrem, não consegue plantar uma arvore com copa suficiente para lhe trazer uma
sombra de paz, conforto e real bem aventurança. E a música seguiu...” eu voltei
para as coisas que eu deixei... eu voltei... tanto quis dizer e não falei, E
chorei...”.
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