domingo, 4 de junho de 2023

 O calor me deixou silenciosa mas não sem ânimo. A tarde de domingo foi um desafio a ser vencido sob um calor de doer. Cheguei da Igreja e coloquei água para ferver antes de trocar de roupa. Dei conta de um almoço razoável enquanto Helena se esticava no sofá diante da TV. Todos almoçados eu limpei a bagunça e fui ajeitar o quintal. O sol não estava para brincadeira. Olhei e vi uma moita de capim que nascera entre os pisos do quintal. abaixei e puxei mas ela estava resistindo. Abaixei um pouco mais e percebi que aquela pequena moita estava milagrosamente viva no meio do piso quente e tal só era possível porque estava presa por um fio de uma longa raiz que descia até a terra abaixo do piso. Puxei com cuidado e fiquei ali no sol pensando. Pensei na ligeireza da vida e na sua fragilidade. Não somos também presos à vida por um fio? Um tombo, uma infecção, um acidente, um infarto e, de repente, o fio de rompe e não somos mais. O CPF é extinto. O fogão fica apagado, o carro empoeirado na garagem, o quintal se enche de mato, o portão não bate mais; a comida sobra na panela, a cama fica fria, o quarto se enche de eco de um vazio sem fim. A vida perde a cor, o gosto e o perfume. Caminhei até o interior da minha casa e brinquei um pouco com Helena para alegrar a alma depois um banho frio para refrescar o corpo.

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