segunda-feira, 22 de abril de 2019

PRESENÇA DE DEUS


Não entrei na sala. Pela janela, assistia a um homem que, em pé no meio da sala, com as mãos erguidas, intercedia em oração. Todos ali eram pentecostais e eu havia chegado, juntamente com meu avô Odino, sem avisar, trajando bermudas, para uma visita ao meu velho tio Gentil em Silva Jardim. Com meu filho mais novo no colo, apenas a cabeça na linha de visão dos que estavam dentro da casa, permaneci com os olhos semicerrados. Aquele homem , no meio da
Oração, abriu os olhos e disse “ moça que está na janela, entre, Deus deseja falar com você nesta tarde e ele diz que não se importa com sua bermuda”. Cesar se remexia no meu colo enquanto eu assustada entrava para o recinto. Um silêncio impossível entre pentecostais desceu naquele momento. Aquele homem começou a conversar comigo e traçou uma rota de vida para o futuro. Ele apontou para a BR 101 e disse: “ vejo você dirigindo um carro seu, indo e vindo, muitas vezes por aquela estrada”. Eu pensei que isso seria impossível pois não tinha carro nem sabia dirigir. Ele disse, “ vejo você assinando uma escritura e vejo uma linda casa”, pensei: “ impossível pois Não tenho dinheiro para comprar uma casa” ele disse muitas coisas e eu, na minha descrença a tudo refutava em meu coração. Então ele olhou para o passado e me disse: “ quando este teu filho nasceu, o anjo da morte compareceu na sala de parto porém o Senhor o repreendeu por isso hoje você está com este menino colo. Lágrimas quentes desceram em minha face vermelha pelo calor do momento. Uma visão daquele dia me veio à lembrança. Eu estava sendo preparada para a cesariana enquanto chorava copiosamente, uma sensação de morte iminente me causara terror nos dias que antecederam o parto e naquele momento, enquanto todo meu Corpo tremia pelo frio da sala, isso se tornou um gigante. Cesar, o médico da família, entrou na sala, ele não iria participar da cirurgia, mas eu apavorada, dias antes, solicitei sua presença na sala do parto. Enquanto os médicos faziam seu trabalho eu segurava a mão de Cesar. Até que não a senti mais. Nada fazia mais sentido ali. De longe percebia os médicos que conversavam entre si enquanto Cesar me sugeria o seu nome para colocar na criança, se fosse um menino. Lembro-me de ter dito três palavras: “Cesar, estou morrendo” e mergulhei num silêncio. Alguns milhares de anos depois, abri os olhos, cinco segundos havia se passado. Cesar segurava meu rosto e me chamava pelo nome com um visível pânico na voz. Os médicos se movimentavam rapidamente pela sala enquanto diziam palavras que eu não entendia bem. Eu estava de volta. Eles levantaram um menininho vermelhinho de saco roxo. Sorri e disse “ ele vai se chamar Cesar”. Três dias depois estávamos em minha casa festejando, juntos, o dia Natal. Dois Césares, estavam dividindo o reinado naquela tarde. 
Desde este dia até o encontro com aquele homem na casa do meu tio, havia se passado cerca de dois anos. Eu não pensara mais naquele fato. Mas diante daquele homem, tão humilde, eu que até então estava tão cheia de mim, tão incrédula de tudo, desci ao pó. E todos sabem, que foi do pó que Deus criou o melhor. Algum tempo depois um furacão devastou minha vida. Aprendi a dirigir, comprei um carro e fui trabalhar em outro local. Todos os dias passava ali na estrada, olhava e pensava nas palavras daquele homem tão simples. Cerca de cinco anos depois eu, assinando a escritura do terreno onde construi a Casa onde moro, lembrei daquela sala cheia de crente orando. Minha caminhada continua, cheia de espinhos mas também de flores. Muitas lágrimas amargas mas muitas gostosas gargalhadas. Muitas noites de angústias infinitas mas muitos dias cheios de graça e misericórdia. Deus não me dirige a palavra diariamente como foi naquele dia, mas sua presença é tão real quanto possa ser. Cada um de nós tem experiências tremendas com Deus. Algumas nunca foram prenunciadas por um profeta, outras, talvez. Mas Ele continua, sempre, segurando o leme deste tremendo Barco chamado VIDA e não importa o tamanho das ondas, nosso barco continua a viagem pois temos um Porto Seguro que nos espera na eternidade.

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