ROTINA EM FAMILIA

 Ainda cedo percebi um sopro fresco entrando pela janela no quarto iluminado. Com preguiça entreabri os olhos e vi que o dia já vinha alto. Lembrei que era domingo mas não me animei muito. Virei-me para o outro lado e abracei o travesseiro. Tentei ouvir o barulho da casa. O cheiro de café revelava que meu esposo já estava na lide da vida. Sem me dar conta já estava de pé arrumando a cama. Nem sei bem como lancei o lençol com tanto ânimo que arranquei uma lâmpada que quase estourou em minha cabeça. Eita! Calma mulher! Ajeitamos a lâmpada no lugar e desci para o café. Enquanto mexia uma xícara de café com leite olhei para dois banquinhos de madeira que comprei outro dia. “Luiz, você pode envernizar esses dois banquinhos quando puder”, disse despretensiosa. Ele olhou para os bancos com uma xícara de café quente queimando os dedos e respondeu que iria fazer assim que terminasse de reformar o portão, pois tinha muito para fazer ali ainda. Sem expressão alguma eu disse que se eu não tivesse tanta alergia iria ajudar na pintura. Ele deu a volta na mesa olhando para o frente como quem vê o infinito e disse que eu não sabia pintar e que ele, com muito estudo e dedicação aprendera e que isso é um trabalho difícil. É claro que não deixei barato! “ se você conseguiu aprender eu que sou inteligente não vou conseguir?!” Ele me olhou de soslaio e teve um acesso de riso. Ah coitado! Mais um gole de café que já havia esfriado e eu parti para receber o domingo enquanto ele virava o banco de um lado para o outro afirmando que o serviço não iria ficar barato não!