quinta-feira, 17 de maio de 2018

VELHA INFÂNCIA


Não eram dias fáceis. O asfalto elevava as temperaturas do verão escaldante do Rio de Janeiro. Morávamos numa casinha bem simples. Havia um quarto, uma sala, uma cozinha bem pequena e um banheiro. Era coberta por telhas de barro, exceto o pequeno banheiro sob cuja laje nos abrigávamos em dias de temporal. Lembro-me de tia Dem-dem pegando alguma roupas brancas do meu tio que era da Marinha e levando para protegê-las da chuva. Numa dessas eu saí correndo do banheiro para salvar o meu único casaco. Sob os gritos de protesto da minha tia, corri pela casa adentro sob a chuva e pedaços de telha que se desprendiam pela ação do forte vento. Volte inteira com o casaco na mão. Titia me puxou para o canto enquanto eu o vestia . Ela , zangada, me dizia para tirar pois estava muito calor. Eu, teimosa, não tirava pois se estava chovendo tinha que colocar casaco. Quando a chuva passava ela corria para secar tudo, as telhas eram recolocadas e a vida seguia entre ir a feira de domingo do outro lado da Rua Marcos de Macedo em Guadalupe, colocar Neocid na minha cabeça empiolhada e tomar banho na caixa de mil litros onde ela mantinha uma reserva de água para enfrentar as constantes falhas no abastecimento do precisos líquido. Visito regularmente esta tia querida, menos do que devia . Em razão de um derrame ela ficou impossibilitada de falar. Mas as lembranças não se calam e sempre nos trazem de volta a tia forte, viva, inteligente, amorosa e polêmica que vive por detrás do doce olhar que dela colhemos quando chegamos à beira de sua cama.

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