sexta-feira, 31 de outubro de 2014

CASIMIRO DE ABREU - DIVAGAÇÕES II





Quando o tempo passa deixa para trás seu rastro e vez por outra percebe-se o aroma da saudade pairando no ar.

Então a mente mergulha em busca de lembranças que habitam em lugares profundos

Hoje, quando vejo tantos carros, tanta gente diferente e o ir e o vir.
Mais uma vez, voltei a Casimiro de Abreu das minhas lembrança.

E então pude sentir o cheiro de bolo que inundava os fins de tarde próximo da rodoviária, onde seu “Vanor” vendia e D. Nézia tecia longas conversas com os jovens, dando-lhes bons conselhos.

E ouvi o sino da Igreja, que o Sr. Dalfin, se encarregava, pessoalmente, de bater às seis da manhã, ao meio-dia e às seis da tarde.  Soube outro dias que hoje, o que se ouve é uma gravação.

 A tecnologia bate o sino.

E na então Escola Estadual Casimiro de Abreu, a criançada, suada e ofegante, após uma carreira da porta da sala até o portão, ganhava as ruas sob o badalar do sino cujo som inundava toda pacata e serena cidade.

O sol era tão claro mas, não parecia tão quente como hoje.
E havia um cinema onde hoje se ergue o Banco do Brasil ,  e também “Hi Fi”, e a moçada dançava,  juntinho,  rosto no rosto ou separado,  e era capaz de ser feliz com coisas tão simples.
E então olhei e vi a loja de D. Zaíra, onde Maria, irmã de Dedê, nos vendia roupas de marcas, lindas, mas muito caras. Acontece que ela parcelava tanto que acho eu, tem gente pagando até hoje.

E mais na esquina, onde hoje existe uma farmácia, havia uma vendinha de propriedade de seu Wantuil Barreto Neves que depois virou uma farmácia que se chamava Camila, e tal Camila, que também era uma menina,  não é mais pois cresceu e se tornou uma advogada.

As vezes a cidade toda parava para chorar. Um acidente de caminhão, uma menininha que morreu por uma fatalidade no lar;  um jovenzinho , que adoeceu e se foi tão de repente; um acidente de carro na serramar,  um afogamento  na lagoa da Coca-cola...

O luto cobria todas as famílias. Era um tempo de dor, mas de muito calor e solidariedade.


E pelas ruas ,  vestido num bermudão branco, repuxado para cima, com uma camisa também branca, o Seu Bezerra que ia e vinha e ninguém sabia de onde nem para onde.


E a entrada do Colégio Feliciano Sodré, onde Seu Leôncio e Dra. Cezarina, sempre estavam à espera, com um papinho e um simpático cafezinho.


E lá na frente estava Godê, mancando de uma perna, olhando para todo lado mas  parecia que não via ninguém.
Seu Itamar , com seu jeitão, que tão bem servia ao povo no Segundo Ofício da cidade com uma assinatura de cabeça para baixo que encabulava todo mundo.


E sua esposa, D. Terezinha, muito conhecida pela sua generosidade.


E mais, havia Cartórios na cidade. Sim, dois ótimos cartórios onde a cidade era muito bem atendida.

 
Um pouco antes, estava o Padre José, de batina preta, catando crianças pela rua e entregando aos pais, pedindo que tivessem cuidado com as valas negras.

E creiam, era esse o grande perigo que as crianças corriam naquela época.


E depois chegou Paco que esbanjava graça e simpatia.
Havia uma padaria próximo da linha do trem que era de Seu Chico Marchon e da Dona Diva, e eles constituíram uma grande família, que hoje faz diferença na cidade.


A o revoar das lembranças me levou ao armazém de Eres, onde Ramon e Ricardo atendiam no balcão. Eram dois molecotes começando a vida, quem pensava que um deles seria prefeito da cidade?


E num tempo remoto, do outro lado da linha, Seu Chico Franco, com um armazém lotado de coisas, guardava a sete chaves um monte de filhas bonitas que aos poucos foram sendo conquistadas por rapazes da cidade, e casaram-se e nos deram inúmeros jovens que habitam a cidade.

E por falar em casamento, o sonho era um vestido feito por D. Altiva e bordado por Nilzinha.


Hoje se vai ao Rio de Janeiro em dois tempos, e à Macaé num pé só.
Não era assim. A Br 101, era conhecida como “Estrada Tronco”, chegar a Macaé era um verdadeiro Rali. Um ônibus saía de manhã dirigido por Gê Guarabu e voltava à tarde. E pronto.
Seu Tancredo ,  as pessoas falavam baixinho, era um militante político de esquerda, comunista talvez, embora ninguém soubesse bem que era isso.


Minha professora da terceira série, Vilma Marchon, um dia, ela foi viajar e nunca mais voltou.  Ela era linda e era loira. A cidade chorou.


Se houvesse dor de dente, só tinha um jeito. Seu Jaime, o único dentista da cidade, que não era dentista. O risco era sempre do dente ao lado.


Nogueira de Souza, era o Hospital. Por seus corredores, iam e vinham em suas vestes brancas as irmã Francisca e Hugolina, dando sempre um jeito para que tudo estivesse em seu lugar.


E por falar em hospital, quem não se lembra de D. Geny , parteira da cidade, isso mesmo, nada de obstetras ou ginecologistas, tinha uma barriguda para parir, lá estava D. Geny, com sua mãos hábeis para trazer a luz mais um bambino.


À noite, homens e mulheres, sentavam-se às mesas escolares e no MOBRAL, teciam, fio a fio, o sonho de aprender a ler. Lá militava a professora Maria Dias. Ela deixou para Casimiro, uma filha e esta nos legou duas moças, gêmeas, uma graça as meninas.


E do outro lado da pista as pessoas se encontravam no mercado Benevides, um dos primeiro da cidade, sendo de “grande porte”, muito bom mesmo.
Telefone só existia um. E se chamava: PS1, só isso. Era público. A gente ligava e pagava os minutos e voltava para casa feliz da vida. O Outro telefone, ao que dizem, ficava no cartório, não sei bem.
A violência era mais uma personagem das histórias que se contavam. Lendas e história de Marcelino, um bandido assassino de mulheres grávidas e tudo mais de ruim, nos causavam terror, e me fazia conferir as portas e janelas várias vezes antes de dormir.

 Eu ficava olhando para cima, havia um rumor de que ele costumava entrar pelo telhado. Não sei até hoje se ele, de fato, existiu.


É isso aí gente. A gente é mais que um CPF ou um RG. A gente é o que pensa.

Eu nem sou cidadã de Casimiro. Não tive a honra de aqui nascer. Mas tive de  crescer. Entre as árvores da antiga Praça Feliciano Sodré eu brinquei de quatro cantos.  E tomei banho no rio Tabicum, é claro, escondido do meu avô. E mergulhei no Pai João. E até fui a pé até o rio Macaé.
Estudei na Escola Estadual e no Feliciano Sodré, que já não existe.

Na verdade, tudo sempre vai existir dentro do nosso coração enquanto nós estivermos por aqui.

domingo, 7 de setembro de 2014

Casimiro de Abreu da minha alma




Será que alguém vai ler isto? Acho que vale a pena.
Nesta manhã,  enquanto caminhava,  mergulhada em pensamentos, olhava para esta cidade. Como mudou . Antes eu ia e vinha. Agora eu vou, mas não volto mais pelo mesmo caminho pois é contramão. Antes eu parava o carro para um papinho rápido, agora não mais, pois imediatamente alguém se aproxima e me toca dali, ou então me aplica uma multa .
Certo, o progresso, ou a iminência dele, tem seu preço.
Continuei. Algumas pessoas passaram voltando da caminhada. Suadas, cansadas , ofegantes.
Pensei nas pessoas que vi desde criança. Pessoas que trabalharam e construíram Casimiro de Abreu. Algumas lembranças emergiram...
Dona Arinda, fazia doces, criava Zeca, Paulo Jorge, Teresa... essa turma está aqui, pessoalmente ou por seus filhos e netos fazendo diferença.
Maria Luiza e Leonice faziam maravilhosas roupas. A segunda fazia bolo de casamento, se não me engano.
Dona Maria do Carmo, era a grande diretora do Estadual, seguida por D. Janete e D. Marlene.
Manequinho,  Chico Miguel, e seu Bragança,  importantes comerciantes locais.
E a loja do Paulinho, que era pequenininha e tinha tudo,  tudo mesmo, que a gente precisava.
Janete Marinho, nos triturando com a matemática...
Celio Sarzedas o prefeito que eu via todo mundo votar...
Oduvaldo Gonçalves, ensinou química e física e enlouquecia os alunos exigindo uniformes com meias impecáveis.
Seu Hermíndio Pinto, com seu mercadinho, vendendo fiado para todo mundo.
Seu Nerito, com seu restaurante, bolinho de arroz e manuê da D. Alzerina, até hoje ninguém conseguiu fazer igual, nem Josué.
Eliete dando aulas de Português e Literatura, que isso! Só de lembrar aperta o peito.
Sarita, a mendiga que roubou minha boneca.
E Afonso que tinha um pé enorme.
E Estelita que vendia laranjas na praça e depois virou fotógrafa . E Ary , o fotógrafo.
E a televisão que ficava na praça,  em frente à padaria, e era ligada às seis para o povo ver as novelas.
E seu Moreira com o pão sempre pronto e a fumaça saindo da chaminé.
É, um pouco antes, a farmácia do Pastor Luiz Laurentino.
As festas maravilhosas de Edmeia e Elenir.
E seu Lucio André cuidando da saúde do povo.
O armazém de Ubiratan Gomes da Silva, seu Zizinho, que dava as boas vindas a quem chegava na cidade, hoje há uma pastelaria no local.
E seu Pessoinha, com a serraria, local onde a cidade terminava e se iniciava a zona rural.
E a professora Elida Passos chegando, ainda menina, para lecionar.
E meu tio querido, Elizeu Miranda, com seu violão, cantando e declamando poesias pelas ruas de madrugada .
E meu avô Odino chegando em casa, cansado, depois de uma longo dia visitando igrejas. Mariolas no bolso para alegrar a neta.
E Edmar EMP, com muitos carros, caminhões gerando empregos para tanta gente.
E Zilmar Costa, uma mistura de político, policial, amigo e austeridade, sempre às voltas como oposição...
E seu Nilton Macabú com sua farmácia, que lá está, dizendo que os homens vão e suas obras ficam.
E D. Hosana, com tantos filhos advogados e uma filha, Nailza, que foi minha professora juntamente com sua prima Eliane.
Cada coisa no seu tempo...
E ... cheguei em casa... as lembranças voltaram para o fundo da alma onde compõe aquilo que hoje sou.
Que a cidade cresça, mas não se esqueça de respeitar e valorizar aqueles que vieram antes e com seu trabalho fizeram estacas que firmam esta cidade e dão a ela uma história linda de se contar.

Helena: conversando sobre o futuro

Vovó falta muito para eu ficar adulta?
Helena, não falta não. A nossa vida passa muito rápido.
De repente, alguém chama você de " aquela moça ali" e você procura e descobre que é você. Então todo mundo vai querer que você tome atitudes muito sérias e maduras.
Madura como uma banana?
Não Helena, significa que você terá que pensar para decidir sobre as coisas que falar ou fizer pois os coleguinhas adultos são muito exigentes. Quando eles zangam, custam muito para ficar de bem, entendeu?
Vovó, tomara que demore bastante, né?

sábado, 16 de agosto de 2014

NOVAS DE HELENA

- Vovó você está gripada?
- Sim Helena,
- E por isso você não quer me ver?
- Não... é claro que eu quero ver você, mas não devo para a gripe não pegar você.
- A gripe não gosta de mim vovó? Por isso ela vai querer me pegar? Vou contar para meu pai...

HELENA APRONTANDO

Vó, fala pro meu pai parar de ficar me fazendo de cobaia nos ensaios dele de "cabelelelo"? Tô brava... hum!
Boa noite vovó Lalane. Você está demorando muito para vir me visitar por isso estou verde de saudade.... vou falar com minha amiga Priscila Perim, que é oficial da justiça, para te buscar e depositar aqui na minha porta. Agora pode dormir. Eu ainda vou mamar mais um pouquinho ... hummm. bj

- Vovó o que é "Feliz Aniversário"?
- É uma forma da pessoa dizer que está alegre porque a outra pessoa completou mais um ano de vida E então quando a gente gosta mesmo da pessoa, dá também um presentinho... 
- " Peraí" vovó ... 
- MAMÃE FELIZ ANIVERSÁRIO!!!! Eu estou alegre e quero que você fique muito feliz neste dia. Depois vou pedir dinheiro a minha vó para comprar uns presentinhos tá?.

HELENA E EU


-Vovó o que é confiança?
-Helena, vou dar uma exemplo.
- Você está brincando, então sua bonequinha cai do berço, você não precisa chorar pois o papai estava no computador, bem perto, você olha para ele. Então ele vai, pega sua boneca e salva ela de ficar sozinha no chão frio . Você não precisa se preocupar porque você tem confiança no papai. Entendeu?
E ele ama você, isso faz você confiar nele. Você sempre pode confiar no papai, na mamãe , na vovó, no vovô, no tio Cesar, na titia, porque essas pessoas amam muito você e estarão sempre prontas a ajudar quando você ou sua bonequinha precisarem, entendeu?
Entendi. Vou pedir um brinquedinho novo pro papai e vou confiar..



EU E HELENA


Vovó linda, estou " tu sodade" vem me ver tá? Compra um plesente no pzota pla min tá? -Vó, tomi banho e passei colônia. Eu sou linda né? Agora tenho que mamar tchau. Bj 


-Eu tô crescendo vovó?
-Muito Helena
- Eu vou ficar uma menina muuuito bonita e inteligente? 
- Claro! Igual a mamãe e ao papai.
- Vó... eu também posso ser um pouco igual a você? 
- Oh meu bem! Será uma grande alegria!


- Vovó.... você veio me visitar! Eu estava com muita saudade. Por que você demorou tanto para vir? Quando você demorar assim eu vou mandar fazer busca e apreensão de você viu? —
- Helena, você está acordada? - Um pouco vovó. - Olha, assim as outras amigas da vovó vão ficar com ciúmes... - Olha vovó eu também gostei da roupinha que Tia Nana me deu. E amei a roupinha que tia Betinha me deu. Vovó viu como eu fiquei linda no macacão que Tia Núbia me mandou? Vovó eu aaaamo suas amigas tá? De verdade... mas agora posso dormir um pouquinho? —

A GRANDE REVOLUÇÃO

  Jesus convocou o mundo para o maior desafio já visto: ama o teu próximo… eu sempre digo: dura coisas nos pediste. Pedir para amar é pedir...