domingo, 4 de outubro de 2020

DEUS FARÁ UM CAMINHO...

 Aquele homem estava conversando no balcão com uma de nossas estagiárias. Levantei-me e fui tentar ajudar. Ele havia sido avisado que seu filho fora liberado da internação e que o Degase iria fazer a entrega do menino no fórum daqui. Ouvi com atenção e pedi-lhe que aguardasse até que chegassem com o menino. Passadas um ou duas horas fui avisada que o transporte do menino chegara. Fui ao local, verifiquei se havia alguma pendências e voltei deparando-me com os familiares do menor. Lá estavam o pai, a mãe e os avós. Um frio percorreu meu corpo e toda minha pele arrepiou-se. Os avós, idosos, corriam em direção ao carro que guardava o garoto. Um misto de alegria, angústia, ansiedade e dor se fazia presente na expressão daquela família. Minha alma se comovia enquanto eu pensava no sofrimento deles. Há 17 anos receberam, com expectativa, a notícia da gravidez. Com muita dificuldade prepararam o enxoval, um bercinho, mamadeiras. Olheiras na mamãe e muita preocupação do papai que trabalhava duro para manter a barriga do moleque cheia. Ensinaram as primeiras palavras e riam com os vovós de suas artes e gracinhas. O jardim de infância, a formatura da C. A. onde provavelmente já faziam planos para o futuro brilhante que desejavam para o filhote querido. Agora ele estava ali. Fora preso. Já fazia tempo que eles notaram que havia algo errado com o menino deles. Ele vinha mudando , o jeito de falar, o jeito de tratar com os pais. Mas não conseguiam imaginar a gravidade da situação até a hora em que o viram algemado e levado para longe deles, friamente, por policiais. Foram dias de muitas lágrimas e questionamentos. Oraram e choraram diante de Deus. Agora ele teria uma nova chance. Quiçá soubesse aproveitar. Subi as escadas imaginando tudo isso. Desejei voltar e ver como o menino estava . Queria voltar e perguntar Àquele menino onde estavam seus amigos de abandalha. Onde estavam os demais elementos que com ele feriram a Lei e estraçalharam o coração de seu pais e mães e que destruíram a vida de seus avós.  Não havia ninguém, na hora da dor e desgraça só a mamãe, o papai e os vovós. Os amigos desaparecem. Naquela noite dediquei a oração aos jovens. Que Deus cuide para que as promessas dos criminosos não consigam tragar nossos jovens e adolescentes. E que aquele garoto encontre um novo lugar no mundo para recomeçar. Boa noite!

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