domingo, 4 de outubro de 2020

O ESPELHO - ROTINA DE FAMILIA

 Você tem espelhos em casa?  Um em cada banheiro, um em cada quarto, na sala? Um pequenino na varanda dos fundos onde o marido ou o pai faz a barba? 

Quantas vezes nos olhamos no espelho durante o dia?  Dizem que quanto mais caminhamos pelos anos menos nos olhamos no espelho. Uma criança, uma  ou um adolescente passa muito tempo na frente do espelho virando os cabelos de um lado para o outro, fazendo caras e bocas, espremendo algumas espinhas... Se paquera, se namora, se admira, se critica, se odeia, dá até tapa na cara quando a coisa ficou sinistra. 

Cortei o cabelo todo repicado estilo  anos 90. Recebi críticas, respondi que não me importo. Fi-lo porque Qui-lo, como diria o saudoso, talvez não tão saudoso, Jânio Quadros. 

Já não passo tanto tempo  diante do espelho, não tenho tanto o que olhar, como já tive um dia. 

Ontem a noite saí para caminhar no sereno, estava frio, cheguei em casa me aqueci e fui descansar. Hoje cedo, passei uma escova rapidamente nos cabelos  e fui até o CEB ver como estão as coisas na escola.

Quando retornei,  ao lavar as mãos,  levei os olhos ao espelho e vi o quanto estavam arrepiados meus cabelos. Sorri de mim. Lembrei-me  do sereno de ontem a noite. Passei a mão para lá e para cá e imaginei o que os colegas estavam pensando por me verem  com aquele cabelo que quase chegava ao céu. Ri de novo. Não me importa tanto isso. Acho que não me importa quase nada. Só um pouquinho. Prendi a juba e fui cuidar da vida. Afinal, estava feito e não tenho tempo para gastar com ressentimentos de espécie alguma. Então me deparei com uma mensagem do meu filho indicando um jovem de comunidade que publica vídeos de Filosofia, parei para assistir um deles.  Diferente de tudo que já vi. Mas muito interessante.  Ele menciona a crítica de Nietzsche aos padrões de comportamento cristãos.  Pensei no espelho e no meu cabelo arrepiado.  Um espelho, pensei, é o que nós precisamos. Não um espelho comum, mas um espelho mágico, não como o da Branca de Neve, mas um espelho que mostrasse a alma.  Um espelho que mostrasse nosso eu. Aquele eu que escondemos com sete chaves e alguns cães ferozes.  Não sei se gostaria de ver isso. Não sei quantas pessoas chegariam diante de tal espelho. SE quando dizemos uma verdade, uma só, algumas pessoas já se levantam furiosas, imaginem se elas estivessem diante de um espelho desse tipo?  Enlouqueceriam, certamente.  Quando descobríssemos que não somos o que pensamos,  quando víssemos que nosso discurso esconde a podridão que habita em nosso coração, quando víssemos nossa nudez exposta diante de nós mesmos... não sei como seria. Mas penso que seria o momento do vaso quebrado. Quem pudesse ver de verdade certamente se esconderia como Adão e Eva. Ou quem sabe assumiria sua miséria e buscaria socorro em algum lugar.   Talvez o verdadeiro cristianismo seja esse espelho. Alguns olham e desdenham, o espelho está com defeito, está deformando a gente, preferem aquele outro que colocam nas lojas para nos vermos mais magros e esbeltos.  Outros nem querem olhar, outros criam teorias sobre o espelho , talvez ele seja uma criação da direita ou da esquerda ou sei lá. Mas o espelho estaria lá. Quem olhasse e conseguisse ver nunca mais conseguiria se importar com uma cabelo arrepiado.  Afinal, quem se importa com uma unha quebrada quando um câncer em metástase está consumindo todas as suas entranhas?  Só para pensar. Só para aqueles que conseguem vencer a ansiedade e chagam ao fim de um texto longo como esse.

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