domingo, 4 de outubro de 2020

HISTÓRAIS DE MINHA MÁE

 Costumo dar boas risadas quando converso com minha mãe sobre sua infância. Eram oito irmãos dos quais só restam dois deste lado da existência. Meu avô começou a vida como meeiro  na Fazenda do Dr. Peçanha em Cambucás. Com o tempo ele se tornou comerciante. Um empório que vendia de tudo: bacalhau, xaréu, arroz que ele mandava pilar, cachaça , vinho e groselha. Existia um refrigerante de morango e as bebidas eram enterradas no chão para ficarem frescas. Nada de geladeira. Havia uma bala de quatro cores do tamanho de um limão e tinha também leite condensado que ela vez por outra surrupiava para beber no furinho da lata e depois escondia no baú junto com suas roupas. Ninguém achava,  exceto as formigas. Certa ocasião ela ganhou dois ovos que colocou para chocar e que  lhe garantiu uma franguinha que tinha um topete de penas sobre a cabeça. Ela então começou a criar galinhas, mas meu avô dava o milho. Para não misturar as galinhas ela cortava a unha de um dos dedos e assim, vez por outra meu avô vendia algumas e lhe dava sua parte. Banheiro era o mato e estava muito bom. 

Complicava na época de tomar remédio para vermes. Meu vô juntava a filharada e dava remédio que podia ser Panvermina, um outro conhecido como “ Tiro-seguro” ou um lombrigueiro feito de óleo que ele esquentava e jogava goela a baixo nas crianças. Não demorava nada a criançada corria para o mato e era um verdadeiro Deus-nos-acuda, sem detalhes🤭. Isso acontecia a cada seis meses.  A água vinha nos potes e vinha de longe. As crianças carregavam as latas pela metade e meu vô e vó levavam cheia. A roupa era lavada num pequeno córrego que passava na propriedade. Não se lembra de levar surra, mas cascudos aconteciam. Ninguém apanhava porque todos obedeciam. Uma dia ela escutou um palavrão mas não sabia o significado, achou o nome bonito e fez uma música. Vovô ouviu e puxou a Correia porém, antes da correia sair da cintura ela já estava a dois quilômetros de distância, a coça não rolou e ela nunca mais repetiu a música. Recordou-se de um dia que andou  a cavalo sem cabresto com a irmã mais nova, Mariana,  enquanto seu irmão Celso puxava o rabo do cavalo para tentar subir também. Riram tanto que Mariana desabou esparramando no chão. É claro que meu avô estava na cidade com minha avó. Altas horas o armazém ainda estava aberto com os bêbados que relutavam para ir embora. Quando chovia transbordava o riacho e ela ficava olhando quando eles passavam ali dentro para voltarem para suas casas. Bacalhau era uma comida comum assim como carne seca. Minha avó cozinhava grandes panelas de bacalhau com palmito e a criançada se acabava de comer. Depois, haja mato. 

Rimos muito enquanto ela tomava um prato de sopa de legumes que eu havia feito. Muitas histórias guardadas que fazem a gente viajar no tempo e sentir uma saudade enorme de um lugar e de pessoas que não vimos, algumas sequer conhecemos, mas que fazem parte da nossa, tão pouco conhecida, história de vida.

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