Papai chegou no fim da tarde. Eu estava na Janela esperando por ele. Desci correndo e fui ajudá-lo a sair do carro. Ele ainda está bem fraquinho e sente tonteiras. Sentamos para um café. Depois assistimos os últimos minutos do jogo do Palmeira. Vez por outra nos lembrávamos de como ele conseguiu vencer a doença. Meus filhos, abaixo de Deus, foram eles que cuidaram de mim disse ele, um levava uma sopa, no outro dia uma canja, a outra me dava os remédios e consegui. Terminamos de assistir o jogo e passamos a assistir animal planet. Passamos um bom tempo nos admirando da beleza das zebras, das tartarugas marinhas, das hienas. Vimos lindos beija-flores que viajam cinco mil km para achar um lugar com flores. Lá pelas 19h perguntei se ele queria tomar uma sopa. Ele disse que faria uma forcinha. Corri até a cozinha e transformei alguns inhames e batas-doces em um delicioso e encorpado caldo. Ele gostou e pediu um pedaço de pão. Ele repetiu e, por fim, perguntou se havia algum docinho para rebater. Disse que tinha goiabada e ele então “rebateu”. Lembrei que há mais de quatro décadas, eu era uma menina, quando ele teve hepatite. Goiabada era o único doce que ele podia comer. Desde Então goiabada faz parte da paisagem de nossa geladeira. Levei-o de volta. Desci do carro e segurei em seu braço até que ele tivesse entrado com segurança em casa. Voltei em silêncio pensando nas madrugadas em que acordava com a buzina do caminhão anunciando o fim de mais uma viagem. Lembrei que eu corria para pegar as moedinhas no caminhão. Lembrei de como ele nos levava nas férias para viajar com ele e ia daqui na Bahia separando as batalhas que eu e Nanaldo travávamos na boleia do caminhão. Sou grata ao Senhor por me dar a oportunidade de ter papai por perto e poder servir-lhe uma sopa, ver um jogo, ouvir suas histórias e aventuras. É assim, um dia a gente percebe que os papéis se inverteram e então deixamos de cobrar para oferecer a nossos pais, um pouco de tudo que eles plantaram na nossa história de vida.
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